Refletir sobre as políticas
educacionais requer pensar, também, sobre a recepção de tais
políticas no âmbito das práticas educativas, sobretudo pensar a
educação enquanto instituição e as práticas pedagógicas
enquanto instâncias onde as políticas devam se concretizar.
Pensando nesta relação, trago para este contexto minha experiência
como profissional da educação básica, o que me possibilita dizer
que tais políticas nem sempre produzem os efeitos esperados, ou por
vezes reproduzem condições de desigualdade que caracterizam a
sociedade de um modo geral.
Já expus em postagem recente um
pouco do que acompanhei há alguns anos atrás sobre a implantação
de Proinfos e salas de informática em algumas cidades e escolas onde
trabalhei. Estas se apresentam como iniciativas do governo federal
recepcionadas por estados e municípios, mas que não produzem os
efeitos esperados, ou porque são pensados numa lógica ainda
equivocada, ou porque encontram um contexto receptivo pouco adequado
para o desenvolvimento dos objetivos do programa.
Tratando-se das tecnologias
digitais, compreendo que qualquer política que se tente implementar
no espaço escolar seja possível que hajam grandes dificuldades,
entendendo que a escola ainda é um terreno árido no que diz
respeito ao trabalho com as tecnologias. Inciativas como as
apresentadas no texto dos professores Bonilla e Pretto (2015),
tratando sobre políticas educativas e cultura digital, mostram ações
potencialmente interessantes de políticas voltadas para esta área,
mas encontram no espaço escolar uma condição ainda pouco
acolhedora. Este contexto pouco fértil reflete, também, como
evidenciado nesse mesmo texto, um problema na produção e execução
das políticas, problema este que diz respeito a desarticulação de
suas ações e o não pensar o contexto da educação brasileira a
partir de sua realidade.
Não raro a educação escolar é
pensada numa lógica mercadológica, compreendendo a escola como uma
fábrica de mão de obra para atender o mercado de trabalho. Pensada
dessa maneira a escola pode produzir práticas pedagógicas
alicerçadas numa educação bancária – trazendo para a reflexão
uma compreensão freiriana – reproduzindo desigualdades sociais.
Assim, muitas das políticas educacionais, tanto as diretamente
ligadas as tecnologias digitais como as não ligadas, são pensadas
também nessa lógica mercadológica e acabam reproduzindo um pouco
desse discurso, que é perfeitamente absorvido, reproduzido e tomado
como verdade quando chegam na escola. Construindo o entendimento do
uso das tecnológicas, sobretudo o computador, como ferramenta que
potencializa a formação profissional dos estudantes que frequentam
a escola e tem acesso a este equipamento.
É muito comum na escola o
entendimento do uso do computador como ferramenta de trabalho e não
como potencializadora de práticas pedagógicas significativas, e
esse pensamento está alicerçado, muitas vezes, na crenças de que o
mercado de trabalho vai absorver rapidamente quem consegue fazer uso
do computador. Me lembro que há alguns anos atrás, quando o
computador começou e se popularizar, pelo o menos em minha região,
havia uma forte crença da necessidade de aprender a mexer com o
computador para que rapidamente pudéssemos estar empregados – ledo
engano –. esse contexto fez com que surgissem vários cursos de
informática com propagandas que atrelavam o curso à fácil
empregabilidade. Eu mesmo fiz um desses cursos e tenho guardado o
certificado de conclusão. Esses cursos desapareceram na atualidade.
A geração de hoje já entra em contato com as tecnologias de
maneira muito rápida e precoce, enquanto que e a geração passada
tem se relacionado com as tecnologias digitais com certo grau de
facilidade ou dificuldade, a depender pelas interações de cada um.
Nas escolas, sejam elas públicas
ou privadas, crianças e jovens estão por toda a parte com seus
dispositivos móveis ligados a internet – com algumas exceções é
claro porque ainda temos um contexto onde muitos não tem acesso as
tecnologias digitais devido as condições de desigualdades, em que
o poder aquisitivo determina quem tem acesso e quem não tem, bem
como quem tem acesso de qualidade e quem tem acesso de baixa
qualidade. Nesse sentido, a recepção das políticas digitais na
escola tem se configurado frustrante porque neste espaço ainda
encontramos uma concepção de tecnologias digitais arraigadas no
entendimento do uso do computador como ferramenta para atender o
mercado de trabalho.
Além disso, temos também a
falta de intimidade dos profissionais da educação com as
tecnologias digitais, que acabam sendo grandes barreiras que
dificultam perceber a cultura digital como potencializadora de
práticas pedagógicas significativas. Muito comum os profissionais
entender o acesso a internet, bem como as redes sociais, como espaços
não possíveis de aprendizagem, com uma visão de este ser apenas um
espaço de entretenimento e o conhecimento válido é o conhecimento
oferecido na sala de aula a partir das metodologias tradicionais.
Uma das falhas das políticas
voltadas para esta área mora, então, na falta de ações voltadas
para formação de profissionais da educação, tanto a nível
inicial quanto continuado. No sentido de oferecer uma visão que vá
de encontros ao uso das tecnologias digitais como ferramenta, mas que
coloque em evidência as potencialidades metodológicas de
aprendizagem das tecnologias, compreendendo que a cultura digital, as
redes sócias e os diversos ambientes que compõe este espaço podem
ser grandes aliados do processo de enino aprendizagem.
Referências
BONILLA, Maria Helena; PRETTO,
Nelson. Política
educativa e cultura digital: entre práticas escolares e práticas
sociais. Revista Perspectiva, Florianópolis, v. 33, n. 2, p. 499
- 521, maio/ago. 2015





