BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 7-22 e 107-149.
O advento da
modernidade trouxe profundas mudanças sociais, sobretudo nas relações
interpessoais e na maneira como cada pessoa encara, se projeta e é projetada no
mundo contemporâneo. Se a tecnologia e seus avanços, que hoje caminham com uma
velocidade assustadora, trouxe benefícios à vida social, por outro lado trouxe também
um horizonte ainda difícil de decifrar, cheio de incertezas, sobretudo do ponto
de vista de como o ser humano continuará se relacionando com o mundo.
O novo indivíduo
inaugurado pela modernidade, a partir dos avanços tecnológicos, não só é um
sujeito situado em si mesmo, como vem se constituindo enquanto um ser que
se esgota em seu próprio egoísmo. Em “Modernidade Liquida” Zygmunt Bauman nos
mostra como o convívio em comunidade e a capacidade das pessoas compartilharem
e se identificarem a partir de ideias vem se deteriorando ao longo da história,
demonstrando uma vocação quase que viciosa para o isolamento; além disso, este
autor nos mostra também como as ideias e modos de vida vem se tornando cada vez
menos palpáveis e mais transitórias, como se o aqui e o agora fossem o que
realmente importa. As antigas relações “sólidas” e imutáveis deram lugar a
relações transitórias e “liquidas”; como consequência, a ideia de tempo e espaço
tomaram uma dimensão diferente, apoiada nos avanços tecnológicos que
facilitaram a comunicação e deslocamento, encurtando espaço e tempo.
Porém, algo de
similar que ainda guardamos das velhas estruturas sociais e que hoje é camuflada
pelo discurso racional e de transitoriedade da vida, diz respeito às
desigualdades sociais que ainda são uma tônica no mundo atual. Se no passado a
mobilidade social era algo impensável, no mundo de hoje ela figura como possibilidade, atrelada a ideia de que para que isso aconteça seja necessário aos sujeitos/sujeitas já mais perderem o
foco em si mesmos/mesmas e projetem metas rumo ao objetivo desejado.
Podemos afirmar
então que as pessoas estão tão apegadas aos seus desejos pessoais que os anseios coletivos acabam sufocados por um grande número de pessoas competindo
consigo mesmas e com o outro. Um exemplo disso poderia ser visto ao analisarmos
trabalhadores em várias partes do mundo indo normalmente para o trabalho, enquanto
governos tentam arrancar-lhes direitos conquistados ao longo da história. Neste aspecto
então, a vida moderna tem dificultado o engajamento político e esvaziado a luta
comprometida por condições de vida mais iguais, no momento em que o discurso circundante
afirma que o advento tecnológico, inevitavelmente, conduzirá a humanidade a uma
equidade social.
Um outro aspecto
relevante da vida moderna, nos permite refletir sobre a pauperização das
relações interpessoais, fruto de um entendimento da vida e do mundo “onde
estamos sempre com pressa” e a “vida é trem bala”, passa ligeiro. A superficialidade
nas relações e o aligeiramento no contato acaba que por contribuir para uma
visão também superficializada do outro enquanto diferente, sobretudo em seus
aspectos culturais, levando em consideração que estamos muito centrados em nós
mesmo e na nossa visão de sucesso e de fracasso. O contato com o outro, com o
diferente, torna-se algo quase que repugnante, por vezes repleto de
agressividade e ódio, porque não temos mais tempo para tolerar nem para conviver.
O que fazer então
diante de tal realidade que parece tão inexoravelmente inevitável? Para esta
pergunta convido para o debate Paulo Freire, ao afirmar que “a humanidade se
colocou nessa condição, então cabe a ela buscar meios para superação de tal
realidade”. Nesta compreensão esclarecedora de Paulo Freire “nós não somos
assim, estamos sendo assim”. Pensando nisso, seria prudente então leituras e
visões de mundo como as fornecidas por Bauman, Paulo Freire e tantos outros teóricos
e não teóricos, ativistas e pessoas que favorecem uma visão diferenciada do
mundo, no sentido de contribuir para a construção de relações sociais mais
equilibradas ou que favoreçam pensar o ser humano enquanto um ser de relações sociais
não robotizadas, não controláveis.
Penso também, que
a tecnologia é algo extremamente importante, afinal, é fruto de uma construção
histórico cultural da humanidade e, desse modo, deve ser usada como ferramenta
de qualificação do humano e não como instrumento de fomento a desigualdade ou dificultador
do livre pensamento humano.
Leonardo interesante su reflexión y como trajo al diálogo el texto de Paulo Freire. Importante cuando usted afirma que es necesario mirar al otro en cuanto a sus diferencias culturales ya que como seres humanos tendemos a estar muy centrados en nosotros mismos. De esta manera los problemas que nos aquejan como sociedad podrían ser resueltos si cada persona mirara más allá de sus propias necesidades y primara el interés y el bienestar colectivo.
ResponderExcluirO que me parece que está presente nesse contexto apresentado por ti é a questão dos processos de individualização que afloraram com o capitalismo avançado, ou o neoliberalismo. Estrategicamente, para conseguir a chamada flexibilização do mercado e das relações trabalhistas, era necessário quebrar os vínculos coletivos e deixar cada um entregue a própria sorte, lutando não mais contra o sistema e sim contra o outro, o colega, o igual...
ResponderExcluir